Para Falar de Amor - André Filur "Cultuando o Sagrado Feminino" 2024
A obra faz parte da série Carranqueiras, de Andre Filúr, uma celebração do sagrado feminino que exalta a força e a espiritualidade das mulheres. No centro da composição, um
rosto feminino de traços firmes conecta o espectador diretamente com essa força ancestral.
Elementos como as janelas e as velas posicionadas no chão formam um triângulo invertido, símbolo arquetípico do feminino e da fertilidade, remetendo ao ventre e à criação.
O círculo de sal grosso ao redor das quartinhas evoca proteção, enquanto o sal elemento amplamente utilizado em rituais de purificação reforça a criação de um espaço
espiritual sagrado.
As quartinhas, tradicionalmente usadas no Candomblé para armazenar água sagrada, ganham um papel fundamental na instalação. Elas simbolizam a conexão entre o mundo material e o espiritual, servindo como canais para energias divinas. Feitas de barro, essas quartinhas remetem à ancestralidade africana e à ligação com a terra, representando
também o cuidado e o respeito pelos Orixás femininos. Ao "alimentar” as quartinhas com água, a obra convida à introspecção e à reverência pela energia feminina e espiritual
que transcende o plano físico.
CULTUANDO O SAGRADO FEMININO se torna, assim, uma experiência imersiva que, além de resgatar elementos da cultura popular brasileira, como as carrancas do São Francisco e
os ex-votos, explora o sagrado feminino através de uma lente contemporânea, oferecendo uma nova leitura da espiritualidade e das tradições de matrizes afro-indígenas.
Andre Filúr é artista visual autodidata, nasceu e vive em São Paulo (Brasil). Iniciou sua sua carreira na ilustração e logo descobriu no graffiti a possibilidade de expandir e intervir em diferentes meios, mas à medida que sua investigação se aprofunda, seu trabalho passa a transitar em diversos suportes e técnicas.
Suas obras já passaram por diversos países, como Estados Unidos, México, Uruguai, Chile, Holanda, Portugal, Austrália, Japão e Itália, onde hoje uma de suas obras faz parte do importante acervo do Ministério do Turismo da Itália em Roma. Além do acervo italiano, sua obra também se encontra no acervo da B3 (Bolsa de valores de São Paulo).
Sua pesquisa baseia-se na arte popular brasileira e seus misticismos, com ênfase nas carrancas do São Francisco, nos ex-votos, em simbologias de matrizes africana e indígena com um olhar contemporâneo.
Além disso, dentro de sua pesquisa, o artista busca resgatar sua ancestralidade e a retratar sentimentos vividos. Dessas referências, Filúr tem uma forte relação com os seus sonhos, muitas de suas obras já se manifestam antes mesmo do início de sua execução, em um contato direto com seu universo onírico. A imagem e a escolha das cores, assim como o título já lhe são apresentadas nessa relação íntima com o universo holístico, já antevendo o desdobramentos para projetos e exposições.
Nessa relação, as obras de Filúr são uma nova forma de mesclar questões e materiais contemporâneos com suas próprias mitologias, ressignifica a iconografia e constrói novos
símbolos, criando uma nova imaginária popular e sacra.